domingo, 11 de setembro de 2011

Projeto A Vida Vale, no Baixo Alentejo, Portugal

Antes cantar mal que chorar bem - lema de projeto em Odemira

"Mais vale cantar mal do que chorar bem" é o lema do grupo coral criado pela Fundação Odemira com a população sénior [idosa] na freguesia de Sabóia, inserido num projecto que visa também diminuir a elevada taxa de suicídio no concelho [divisão administrativa].

Embora a esmagadora maioria da população alvo seja analfabeta, no espaço cedido pela paróquia da freguesia do Baixo Alentejo funciona também, entre outras actividades, um ateliê onde os participantes contam histórias que deverão ser depois editadas em livro, contou à agência Lusa a dinamizadora do projecto "A Vida Vale", a socióloga Cília Campos. Com uma taxa de 50 suicídios/ano por cada 100 mil habitantes - cinco vezes mais do que a média nacional de 9,8 - Odemira, o concelho mais extenso do país, tem um elevado número de habitantes, idosos, na grande maioria, a viverem em montes isolados, escondidos nas serranias. Em Sabóia, terceira mais extensa freguesia do concelho, com 1.344 habitantes, e ao fim de seis meses no terreno, a cientista social diz que há montes onde ainda não conseguiu chegar.

"A alguns temos que ir com guias", garante. São pessoas sempre com mais de 70 anos, umas na mais absoluta solidão, noutros casos casais, com pensões de reforma baixas, que sobrevivem com o que colhem de pequenas hortas, diz Cília Campos. "Algumas têm muita vontade de viver, outras nenhuma. Nota-se logo pelo olhar vazio", relata. A maior "doença" na região parece mesmo ser a solidão. A falta de meios de subsistência levou os filhos a partirem para as cidades e para o litoral e os pais, envelhecidos, ficam entregues a si próprios, nos montes que sempre foram as suas casas, sem água canalizada, electricidade, esgotos, nem telefone, fixo ou móvel, porque também não há rede na região, descreve a socióloga.

Neste cenário, uma conversa, um abraço ou um aperto de mão podem fazer toda a diferença, assegura Cília Campos, que diz ter o telefone ligado 24 horas por dia. Entre os casos encontrados há um homem que reparte a solidão com um porco, que o acompanha para todo o lado como um cão, e uma mulher que passou o verão a fazer seis quilómetros todos os dias para ir dar comer ao cão do vizinho que estava no Algarve a recuperar de uma cirurgia. Além da socióloga, a equipa do projecto da Fundação Odemira conta também com um psicólogo e com a colaboração da GNR e da unidade de saúde móvel de Odemira.

Para além do trabalho directo com as pessoas, outro alvo são as famílias, mesmo longe, porque "se não estão presentes podem telefonar", argumenta a responsável. No balanço dos primeiros seis meses, Cília Campos salienta o sucesso do yoga do riso, uma técnica usada para pôr grupos de pessoas a rir. "Eles adoram essa actividade", garante. Quanto ao objectivo por detrás do projecto, Cília Campos tem conhecimento de que desde 1º de fevereiro apenas se suicidaram duas pessoas na freguesia, nas duas últimas semanas. Eram relativamente novas "e não tinham nada a ver com as pessoas com quem trabalhamos", afirma a socióloga. 

Fonte: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1987190

Nenhum comentário:

Postar um comentário