segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Crônica da perplexidade

Deixar a vida pela porta dos fundos

Pedro J. Bondaczuk (13 janeiro 2012) 


 O que leva determinadas pessoas a darem cabo da própria vida, a deixá-la pela “porta dos fundos”? Sempre considerei essa atitude extrema um mistério. As causas, ou os pretextos, são os mais diversos, e injustificáveis (nada justifica tamanha insanidade), mas todos desembocam numa raiz comum: inadaptação. Na fragilidade psicológica, gerada, no mais das vezes, por profunda carência afetiva. Na incompetência para lidar com fracassos e frustrações. E vai por aí afora.

Trata-se de um tema delicadíssimo, tido, até, como tabu, tanto que a imprensa evita de abordá-lo. Há uma espécie de pacto tácito, nas redações dos jornais e de outros meios de comunicação, para não noticiar episódios desse tipo. Eles são sumamente dolorosos para as famílias dos suicidas e há sempre o risco de induzirem pessoas, com acentuada fragilidade psicológica, a imitarem esse gesto.


Imagino o desespero que se apossa de um suicida, tão irresistível, que o leva a perpetrar esse ato extremo. A prevenção do suicídio é uma das causas que abracei há tempos. Não integro, é verdade, entidades cuja finalidade é a de prevenir e evitar esse ato extremado, como o Centro de Valorização da Vida e congêneres. Mas aprendi muito a propósito. Não raro, o simples fato de nos dispormos a ouvir o desabafo de suicidas potenciais, sem sermões inúteis e ineficientes para a ocasião, mas com simpatia e compreensão, demove – não sem muita paciência e persistência – essas pessoas de cometerem uma ação tão terrível e definitiva.


Há catorze anos doei todos os direitos comerciais do meu livro “Por uma nova utopia”, lançado em 1998 pela Editora “M” – com o respectivo termo de doação registrado em cartório – ao Centro de Defesa da Vida, entidade voltada à prevenção do suicídio. Não me arrependo, claro, dessa decisão. Mais eu faria se mais pudesse. Afinal, a sensação de haver, de alguma forma, contribuído para salvar um número desconhecido (mas certamente elevado) de vidas, não tem preço.

E por que trago o tema à baila, num espaço voltado à literatura? Porque são vários, mas vários mesmo, em quantidade surpreendente, os escritores que cometeram essa loucura. Uns, fizeram isso ao descobrirem doenças incuráveis e por não suportaram a dor. Outros agiram por impulso momentâneo, após profundo desgosto amoroso. As circunstâncias (pretextos?) foram os mais variados, mas o resultado sempre foi o mesmo: morte prematura, desnecessária e evitável de artistas sensíveis e talentosos.

Fonte: http://pedrobondaczuk.blogspot.com/2012/01/deixar-vida-pela-porta-dos-fundos-pedro.html


Nenhum comentário:

Postar um comentário