domingo, 13 de janeiro de 2013

Livremos nossos filhos do suicídio, educando-os para a adversidade...


Na edição de 2 de novembro de 2008 de Cambio (www.cambio.com.co), na seção 10 Perguntas, Miguel de Zubiría conversa sobre o seu livro  Cómo prevenir la soledad, la depresión y el suicidio en niños y jóvenes.

 O título da matéria originalmente é "Estamos formando unos hijos ineptos". Deixamos o adjetivo ineptos tal como está no original e apresentamos abaixo o seu significado, conforme o Aulete:

. Diz-se daquele que não tem habilidade(s) ou aptidão (para algo).
. Que não é inteligente; a quem falta inteligência; IDIOTA; IMBECIL; PARVO.
. Que denota falta de inteligência, estupidez ou ingenuidade.

Segue abaixo a entrevista completa.

Estamos formando filhos ineptos

Cambio: Por que você escreveu o livro "Como prevenir a solidão, a depressão e o suicídio em crianças e jovens"? 

Miguel de Zubiría: Porque desde 1945 o suicídio era uma exceção entre exceções, mas suas taxas vêm crescendo com consistência em todos os países, sobretudo entre jovens entre 15 e 25 anos.

C: A decisão de escrever este livro teve alguma motivação pessoal, específica?

M: Sim, a perda de vários amigos, pessoas com um imenso potencial, e por descobrir que o que faz a diferença entre os seres humanos não são as atitudes, mas as paixões.

C: Qual a causa do aumento do suicídio?

M: Passamos de famílias extensas, com muitos irmãos e primos, a famílias reduzidas. As crianças, hoje, têm pouca capacidade de socialização. Não há quem as oriente, corrija e por isso são pessoas pouco competentes neste sentido. Nós também acreditávamos que o paraíso era a geladeira e o armário cheios, porém as evidências mostram que quanto maior a abundância, mais infelicidade se tem.

C: A permissividade é um caldo de cultura para o suicídio?

M: Sim. Hoje, os pais se consideram bons à medida que tornam fácil a vida dos filhos. Não se dão conta que estão educando uma pessoa para viver em um mundo que não existe. Quando a criança chega à escola encontrará gente egoísta, agressiva, cruel, exigente... E isso acaba criando um contraste muito forte entre a liberdade que se tem em casa e a violência da vida real. Uma criança que só faz o que quer se torna um inadaptado; a vida, para ele, se torna um peso e pode levá-lo à ideia de que não vale a pena viver. 

C: Isto quer dizer que não perdeu sentido o famoso ditado “por tanto te querer acabo te sufocando”?

M: Neste sentido, funciona sim. Nunca na história da humanidade os pais têm amado tanto os seus filhos. Antes do movimento hippie, o papel dos pais era formá-los; a educação das crianças tinha por base obrigações e deveres. É uma hipótese ousada, mas acredito que a criança que receba tão somente amor e carinho pode ser a origem desta tragédia.

C: Você afirma que são três as causas fundamentais do suicídio: fragilidade, solidão e depressão. Analisemos uma por uma:

Fragilidade

M:  É a característica de uma pessoa que não sabe se defender quando agredida. É provável que tenha sido criada por pais que não entenderam que sua tarefa era formar seus filhos para uma vida, que na maioria das vezes, não é nada fácil.  Estamos formando crianças e jovens ineptos, incapazes de arrumar a própria cama, a comprar alguma coisa na padaria, a fritar um ovo,  a fazer coisas mínimas do nosso cotidiano. 

Solidão

M: A solidão é a epidemia do século XXI, um tema que ainda a psiquiatria não tem abordado com a profundidade que se faz necessário. Mas temos que fazer a distinção entre ser só e estar só. Estar só é um estado apropriado à reflexão, à meditação, enquanto ser só é não conseguir amigo ou namorado. É o fruto de uma incompetência, de ser filho único, de não ter tido a experiência de partilhar suas coisas, de não ter aprendido a negociar, de ser incapaz de exercitar-se na arte mais refinada que existe: a de estabelecer interação íntima com outro ser humano. 

Depressão

M: A depressão sinaliza o mesmo que a solidão, mas o foco está voltado a alguém muito importante: você mesmo. É a incapacidade de se valorizar, de acordar e dizer: “Que bom viver mais um dia!” A pessoa depressiva não consegue gostar de si mesma e se for solitária e frágil o mecanismo do suicídio poderá ser ativado em face de ocorrências como: não passar de ano, perder o namorado, ir à falência nos negócios ou até mesmo sofrer um constrangimento qualquer.

C: Como preparar os filhos para enfrentar as adversidades?

M: Ajudando-os a enfrentá-las gradativamente. Não é possível escalar altas montanhas antes das de baixa altitude. Só possível tocar em um concerto de Mozart se começarmos com os pequenos exercícios ao piano.  É isso o que os pais “amorosos” de hoje não entendem. 

C: As taxas de suicídio são mais altas em países ricos, desenvolvidos?  

M: Esta relação não é direta: maior riqueza, maior taxa de suicídio. As sociedades mais desenvolvidas  tem abandonado a as raízes familiares, rompido os vínculos com a comunidade e criado condições de vida que tem se mostrado ruins. Um estudo muito interessante e que nos serve de exemplo é o do psicólogo Martin Seligman. Em um experimento para sua tese de doutorado ele colocou 50 ratos em uma gaiola e anotou o tempo que eles demoravam a morrer sem alimento. 45 morreram nas primeiras 24 horas e cinco deles sobreviveram até 72 horas. Seligman não encontrou qualquer particularidade biológica entre eles. Um dia, porém, o seu auxiliar de laboratório lhe forneceu a chave do mistério: quando ele tinha ido comprar os ratos só havia 45. O vendedor lhe disse que ele esperasse um dia a mais que ele forneceria os outros cinco. Sabe onde o vendedor os conseguiu? No esgoto. Eles eram justamente os cinco que haviam sobrevivido. A única particularidade era o fato de que eles enfrentavam todos os dias a adversidade.

Quem é Miguel de Zubiría Samper?
Local e data de nascimento: Bogotá, 9 de fevereiro de 1951.
Estado civil: casado, dois filhos.
Formação: Psicologia, Composição musical, Antropologia, Biologia e Matemática.
Percurso profissional: professor universitário, diretor da Fundação Alberto Merani, presidente da Liga Colombiana contra o Suicídio.
Área de pesquisa: Nos últimos anos tem estudo a afetividade e a felicidade em uma perspectiva científica.
Obras publicadas: Psicología de la felicidad (2006), La afectividad humana (2006), Cómo prevenir la soledad, la depresión y el suicidio en niños y jóvenes (Aguilar, 2007).

Fonte desta entrevista
Cambio (www.cambio.com.co)
Domingo 2 de noviembre de 2008 :: Inicio/10 preguntas :: "Estamos formando unos hijos ineptos"
http://www.cambio.com.co/paiscambio/10preguntascambio/738/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR_CAMBIO-3684900.html

Biografia de Miguel de Zubiría na Wikipédia:
http://es.wikipedia.org/wiki/Miguel_de_Zubir%C3%ADa_Samper

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